terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Por que aporte filosófico?

Amor (philos) à sabedoria (sophía) – por que aportá-lo?

“Fama, nenhum outro mal é mais veloz”


Imaginem uma sábia senhora, idosa de muitos, muitos anos, em cuja longa existência conheceu muitas coisas e muitas gentes, estranhando-as todas. Imaginem ainda que um dia foi criança, e como toda criança, por primeiro se assustou com tudo que a cercava. Espantava-se com tudo, uma vez que a tudo ignorava. Mais imaginando, essa criança foi alimentada, aprendeu com o seu frágil corpo e com os seus sentidos limitados o que podia ser visto, tocado, ouvido, cheirado, degustado. Também dormia e acordava. E, é claro, sonhava! Não sabia distingüir o que acontecia enquanto dormia e enquanto estava acordada. Apenas o demorado encerramento da fina película das suas pálpebras separava os dois mundos. Mas ela acabou por descobrir que no sonho era acordado o que sonhava, tanto quanto de olhos abertos, sonhava. Que confusão, mais uma! Sempre passeando nas praças, ali ouvia um mundo de relatos, de como outras gentes viviam e pensavam. E como se encantava com as gentes e seus relatos! Eram eles contados pelos que vinham de muito longe, acostumados à precisão do navegar, ocasião em que levavam e traziam em suas naus, muitas novidades, em mercadorias e em assuntos. Podem supor que essa criança, tão logo tenha aprendido a ficar de pé, a caminhar com as próprias pernas, a girar em torno de si, houve de sentir o seu espanto agigantado. Somente então pode olhar, demoradamente, para cima, para o céu, como também para todos os lados. Quando aprendeu a falar, passou a dizer das coisas que via, sem saber que ao fazê-lo dizia de si. Mas o saber de si, é assim mesmo, é sempre muito demorado! Somente ocorre depois de aprendido o dizer sobre as coisas, daquelas que estão do lado de fora. Ela ainda nem sabia que havia um dentro! Mas quando ela o descobriu, foi o espanto dos espantos! E agora, quem sou eu?... Quem somos nós?... Por que somos?...Para que somos?...Sobretudo, sabemos que morremos, e ?... Não morremos apenas naturalmente, mas matamos... Há regras?...Quais e em que se fundam?... São elas naturais, imutáveis ou são convencionais, modificáveis?...São válidas universalmente ou não?... Quem as pode constituir e regular, simultaneamente?... O que é o Poder? Se a lei , que é pública, somente atinge a ação, como atingir a intimidade do coração?... O que é a consciência? Há meios da vigilância do que se expõe, do que se efetiva do lado de fora, mas quais seriam os meios de descobrir o que não se expõe, o que fica por dentro?...O que são as Paixões?... Domar o impulso da nossa funda natureza animal é o mais certeiro alvo civilizatório: da convenção ao auto-convencimento, eis a chave-mestra da Lei. Mas o que é Justiça? O homem é o único animal que sabe que está vivo, portanto, sabe da inevitável morte biológica- mas como fazer para que não se matem, enquanto isso? O que é a Política? No portentoso embate ser e não-ser, desejo e realidade, possibilidade e efetividade, obrigação e liberdade, quem somos, em quem nos tornamos ou quem deixamos de ser? O que é a Existência? Como distinguir o verdadeiro do falso? Muito mais amamos a ilusão do que a verdade, embora não deixemos transparecer...! Seríamos mais propensos ao erro do que ao acerto? O que é a Verdade? Afinal, por que buscamos o prazer e evitamos a dor? Por que queremos ser felizes? Por que no interior de cada um de nós, tantos elementos contraditórios se combatem? O que é a Ética?...
Aquela sábia senhora- a Filosofia, em seus quase trinta séculos de existência, vem tecendo esses e tantos outros vínculos da existência humana. A continuar esse inventário, reinventando-o, é necessário aportá-lo. Sejam bem-vindos!

4 comentários:

  1. Olá, professora.

    Muito boa, essa idéia do blog. Desejo-lhe muito sucesso.

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  2. Belíssimo!
    Muito gente deve ter parado de ler no início achando que era apenas autopromoção. hahaha. Que pena; não são dignos nem de ser escravos...

    Se pudesse ler isso, Vico perceberia que, ao invés do que supunha, sua obra não foi enviada ao deserto.
    Ele apenas não concordaria que a criança tinha sentidos limitados.

    Um beijo grande Sylvia.
    Nos vemos.

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  3. Ai ai... quanta besteira que eu escrevo...
    Assim como Jesus com os discípulos, eu não sei como tu agüentas.

    Abração.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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